Titanzinho, pertencimento e resistência para o bem viver

“Eu gosto do mar, das ruas do meu bairro, tenho orgulho de morar aqui!” (Suyane)

O projeto “Entrelaçar as lutas e fortalecer as resistências comunitárias: racismo ambiental e violência estatal no Ceará”, finalizou sua primeira etapa, a última roda de conversa aconteceu no entardecer de um sábado (08/06) no Titanzinho, periferia de Fortaleza. Conhecido como um lugar de boas ondas, de onde já saíram grandes atletas do surf. Contudo, seus moradores ainda resistem para permanecer em seus territórios, principalmente, apesar da especulação imobiliária e remoções, a violência urbana e a negação de direitos, como o acesso a saneamento básico, educação de qualidade, saúde e respeito aos modos de vida.

Pertencimento, trajetória e orgulho do bairro iniciaram a roda de conversa. A moradora Josy, ressaltou, “Tenho sentimento de pertença por querer continuar morando aqui, alguns amigos não entendem, mas por que tenho que sair? É nesse lugar que tenho certeza de quem sou, não conseguiria viver longe do mar “, e continua, “ a minha maior angústia é ver a violência na porta de casa, vendo corpos serem violados”. O preconceito ainda norteiam comportamentos de agentes da segurança pública, por quem moradores das periferias são abordados com mais frequência e desrespeito.

“Só não tiram nossa coragem” (Camila)

O planejamento municipal, ou falta dele, vem de quem não mora na periferia. Para Camila, “o plano diretor é um espaço sem a presença de pessoas que vivem e moram no lugar planejado, sendo assim passível de erros, como aconteceu com a instalação da areninha, um lugar inviável”. A areninha do bairro foi instalada na orla do Serviluz, a areia da praia “invade” a quadra. Os moradores haviam solicitado à prefeitura que o equipamento fosse instalado na entrada do bairro, mas não foram atendidos. O Plano Diretor Municipal (PDM) é uma lei municipal que organiza e planeja a cidade, mobilidade, habitação e saneamento.

Durante o encontro, o curta de animação Maré Braba, realizado pelo Instituto Terramar em parceria com outros coletivos do Ceará e Bahia, foi exibido, instigando os participantes a falarem sobre situações onde identificam o racismo ambiental. “teve um tempo que a gente podia ir até a Praia Mansa, esse espaço foi tirado de nós”, pontuou Camila. O Serviluz surgiu após a remoção de pescadores que moravam na Praia Mansa, localizada no Mucuripe, durante a construção do Porto.

Formação política, memória, luta e troca de saberes norteiam o projeto que propõe um intercâmbio entre comunidades urbanas periféricas e povos indígenas. A proposta é construir estratégias coletivas de resistências comunitárias, de defesa dos direitos humanos e socioambientais e de enfrentamento ao racismo ambiental e à violência estatal. A segunda etapa do projeto será um intercâmbio entre campo e cidade.

O projeto é uma parceria entre Inegra, Terramar e a Frente Estadual pelo Desencarceramento Ceará, com apoio da CESE.