O I ENCONTRO LGBTQIAP+ DA ZONA COSTEIRA DO CEARÁ, SERÁ REALIZADO EM JULHO.

“273 LGBTQIAP+ morrem de forma violenta em 2022” / “90% de mulheres trans e tranvestis tem a prostituição como único meio de vida”

Com essas e outras informações em cartazes e ao som de Linn da Quebrada (Oração), a performance de abertura da segunda Oficina regional preparatória para o I Encontro LGBTQIAP+ da Zona Costeira do Ceará iniciou o debate sobre LGBTQIAP+fobia, o silenciamento dos corpos dissidentes, a negação de direitos e o racismo ambiental nos territórios da Zona Costeira. O encontro aconteceu em Fortaleza (20/05), com participantes do litoral leste – do Quilombo do Cumbe, da Resex Batoque, do Aracati -, Naterra e Terramar.

“Tô me sentindo bem nesse espaço. Primeira vez que estou reunida com tantas pessoas da diversidade. Não é uma fase, não é uma modinha…”

“Dentro da organização que faço parte, todos sabem quem eu sou.”

Essas foram algumas das falas trazidas no encontro que foi repleto de troca de experiências, traumas e vividos, que transcorreu por toda manhã de sábado. Das memórias compartilhadas, o fortalecimento coletivo de realizar mudanças, afirmando suas diversidades de forma transparente e sem medo.

No segundo momento da oficina, Cris Faustino (Terramar), trouxe para reflexão a relação do domínio cis-branco-patriarcal e os sistemas de opressões e discriminação impostos por uma sociedade cisheteronormativa. E completou dizendo não ser possível defender o meio ambiente e se isentar das pautas LGBTQIAP+, inclusive por ser necessário reconhecer as existências desses corpos nos territórios costeiros.  Acrescenta que: 

“Não entender quem eu sou, dá margem a outras pessoas nos taxarem. Foi imposto pela sociedade, que para fazer parte da comunidade  LGBTQIAP+ preciso me encaixar em um critério. Vocês que tem na comunidade particularidades, é importante se fortalecer entre vocês.”

Nesse caminho de defesa e garantia de direitos, es participantes foram convidades a se dividirem em três grupos, para refletirem juntes: Quais são os impactos dos conflitos socioambientais na vida des  LGBTQIAP+ nos territórios e quais as nossas demandas?

Com o retorno dos grupos, foram apresentados alguns impactos vivenciados constantemente nos territórios costeiros, tais como:

  1. turismo sexual; 
  2. transfobias e demais violências LGBTIAP+fóbicas;
  3. não respeito ao nome social e aos pronomes corretos;
  4. famílias conservadoras, principalmente por questões religiosas; 
  5. impedimento Cis de atividades; 
  6. desterritorialização dos jovens, que saem dos territórios por não conseguirem trabalho e/ou para viverem em outro territórios que permitam uma maior liberdade;
  7. dificuldade em assumir e vivenciar suas relações afetivas sexuais; 
  8. discriminação escolar;
  9. cooptação de lideranças e divisão da comunidade, dificultando outras lutas;
  10. precarização das condições de vida e sobrevivência.

Das transformações que almejam, dentre as principais se encontram: 

  1. direito ao lazer nas comunidades; 
  2. espaços de debate nas Associações de moradores, afirmando as diversas formas de família e relações afetivas; 
  3. políticas públicas para afirmação de direitos, como um centro de referência e acolhimento LGBTQIA+ nos territórios, onde possam encontrar acesso a saúde física, mental, formações, espaços de memória; 
  4. construir uma agenda, mais regular de encontros do coletivo LGBTQIA+; 
  5. ter garantias de  uma educação afirmativa, inclusiva, antirracista, antitransfobica, antihomofobica, para quebrar essa cultura de opressão nas escolas e fora delas. 

Após isso, a educadora social do Terramar, Romária Holanda, traz afirmações sobre a importância do lugar da fala para garantia de vida, saúde, amorosidade e respeito das pessoas LGBTQIAPN+:

“Vamos afiar nossas línguas, nossos discursos, para termos instrumentos e fazer enfrentamento e disputa pela fala. Como a gente se mune de fala, de argumento? Bicha sem território, sem terra, vai conviver só com mais violências. Às vezes, a gente se conforma em não ser violentada ou morta, e não acessa direitos básicos. Não vamos nos calar mais. Mesmo não tendo a fala formulada, temos que romper o silêncio. Porque o que nos mata cotidianamente, é o silêncio!”.

O próximo momento será o I Encontro LGBTQIAP+ da Zona Costeira do Ceará. Irá ocorrer entre os dias 07 a 09 de julho, em Caetanos de Cima (Amontada/CE).