Trilha e roda de conversa marcaram encontro no território indígena Pitaguary
“ Somos guardiãs da memória do nosso povo” (Pajé Fran Pitaguary)
Na manhã ensolarada de maio (25/04), estivemos no território indígena Pitaguary da Monguba, em um encontro de mulheres negras e indígenas, teve uma profundidade difícil de ser expressa nessas notas.
No início do encontro, as mulheres conversaram na Casa de Apoio Indígena Pitaguary sobre as vulnerabilidades e violações de direitos impostas aos territórios e agravadas pela ausência de políticas públicas. Depois seguiram, guiadas pelo curso do Rio da Providência e pelos passos e palavras da jovem Pajé Fran Pitaguary e da Pajé Nádia Pitaguary, e a atenção do menino Pitaguary Iuri até descansar um pouco na Cachoeira da Providência. Por esse delicado caminho de águas doces, um belo bambuzal, memórias e lembranças ancestrais cruzadas, desde os vínculos vitais entre a existência dos Pitaguary e os elementos ali presentes, às histórias cruzadas das participantes. Por ali, Pajé Nádia transmitiu dentre muitas mensagens, os ensinamentos dos bambuzais “ se eu não tô junto a você, não é possível crescer tanto. Como os bambus, se a minha raiz não é fincada com a sua, também não é possível crescer junto”. O caminho conversado com pontos de silêncio, levou à Cachoeira da Providência.
“A parte que faltava em mim são vocês” (Pajé Nádia Pitaguary)
Já no período da tarde, a roda de conversa foi na Escola Indígena Ita Ara, onde outras mulheres se juntaram às demais. Ancestralidade, cuidado, respeito, resistência, luta, vulnerabilidades, solidão das lideranças, abuso, luto, partilha e união foram alguns dos pontos debatidos na roda. “A maioria das pessoas que estão debaixo da ponte são nossos irmãos, são negros, é raro você ver uma pessoa de pele clara debaixo da ponte”, relatou a pajé Fran, identificando como racismo atravessa diariamente corpos pretos.
No final do encontro, Sarah Menezes (Inegra) ressaltou a importância da união afroíndigena para incidência política e crítica “nesta tarde a gente foi reconstruindo esses laços, afinando essa aliança afroíndigena com pessoas que buscam esse bem viver, essa reparação”.
Formação política, memória, luta e troca de saberes norteiam o projeto que propõe um intercâmbio entre comunidade urbana periférica e povos indígenas. A proposta é construir estratégias coletivas de resistências comunitárias, de defesa dos direitos humanos e socioambientais e de enfrentamento ao racismo ambiental e à violência estatal.
O projeto “Entrelaçar as lutas e fortalecer as resistências comunitárias: racismo ambiental e violência estatal no Ceará”, é uma parceria entre Inegra, Terramar e a Frente Estadual pelo Desencarceramento Ceará, com apoio da CESE.