“Nós somos invisíveis aos olhos desses empreendimentos”
A possível instalação de aerogeradores no mar (energia eólica), tem deixado as comunidades tradicionais pesqueiras atentas. No dia 07/02, aconteceu na praia de Arpoeiras (Acaraú/CE) uma reunião pública oferecida pela Qair Marine Brasil, na qual foi apresentado o “Complexo Eólico Marinho Dragão do Mar”, que pretende instalar 128 torres em Acaraú, com investimento de 25 milhões de reais. Mas como ficam as comunidades pesqueiras? Lembremos que Acaraú possuí pelos menos 16 comunidades de praia autodeclarada tradicionais: Mangue Alto, Barrinha de Baixo, Quatro Bocas, Carrapateiras, Tabuleiro Alegre, Morgado, Lagoa da Volta, Quilombo Córrego dos Iús, Aranaú, Marambaia, Barrinha de Cima, Coroa Grande, Curral Velho, Caliassu, Espraiado, Volta do Rio – todas sob ameaça diante desse projeto.
Na reunião em Acaraú, a empresa não fala sobre os impactos sociais e ambientais. Mas quem já convive com a eólica em terra, sabe dos problemas que causam. Presentes na reunião, comunitários dos territórios de Tatajuba (Camocim), Curral Velho (Acaraú), Caetanos de Cima (Amontada), Xavier (Acaraú) demonstraram indignação, demarcando posicionamento contrária ao do empreendimento. A fala de uma representante da comunidade de Caetanos de Cima destaca a importância de permanecer no território e as falácias prometidas pelas empresas eólicas: “é importante a juventude se engajar nessa luta em permanência e defender o território. As pessoas falam muito que a pesca artesanal vai se acabar, e aí ficam trazendo modelos de desenvolvimento que não nos abraçam e eu como filha de pescador e moradora do território sei que existem formas de viver sem estar degradando, sem trazer eólica, carcinicultura, porque a gente tem o turismo comunitário, a pesca artesanal, ninguém passa fome. Eu vejo nessas reuniões que as eólicas trazem, todas elas, esses vídeos de propaganda, tudo lindo. A gente tem interesse sim nos territórios de ter uma transição energética, mas ela precisa ser justa e popular”.
Na verdade, a beleza não tem passado de belas imagens e promessas ludibriosas de projetos sociais que não contemplam os ensejos de quem vive da pesca artesanal e de um modo de vida singular e único vivenciados pelos povos do mar do Ceará. O governo do Estado do Ceará tem investido e aberto os mares para a indústria eólica. Usam o Hub de Hidrogênio Verde e o discurso de “energia limpa” para legitimar a privatização do mar, ameaçando a existência dos ecossistemas marinho-costeiros e os modos de vida dos povos do mar, sempre com as mesmas promessas: emprego e desenvolvimento. Desenvolvimento nesse modelo é pra quem está investindo no empreendimento – empresas, estado, financiadores e pesquisadores – que recebem todo o lucro, enquanto os territórios obrigados a receber o empreendimento, arcam com os impactos ambientais e sociais.
A reunião fio a segunda apresentada pela Qair Marine Brasil. Muitos comunitários reclamaram que a primeira ocorreu desavisada na sede do município de Acaraú, na câmara de vereadores. Representantes da empresa disseram que ainda teriam três encontros, mas não informaram datas. Estamos ligados aos próximos passos de mais uma ameaça às comunidades tradicionais costeiras.