#tbt Saberes e modos de vida: Organização Popular – ACOMOTA/ Tatajuba
No dia 01/12/1991 foi criada a Associação Comunitária de Moradores de Tatajuba (Acomota). Durante esses 29 anos a Acomota trabalha em defesa do território, ocupado por quadro Vilas: Tatajuba, Vila Nova, São Francisco, Baixa da Tatajuba e Tatajuba.
E o que é esse território?
É Terra para viver, morar, plantar, se encontrar, conversar, fazer festa, ter amizade e amor, ter quintal, jardim, alpendre, bodega, mercado e tal; ter escola, posto de saúde, a associação, o sossego….
É Água de beber, banhar, plantar, pescar, para estar ali e ser bonita, para as pessoas gostarem de ver e curtir. É Mar, é Lagoa, é Gamboa, é Duna e é Mangue… ecossistemas e biodiversidade que guardam incontáveis vidas marinhas, em bonitas e delicadas formas e relações ecológicas. Com toda essa presença, os territórios tradicionais como os de Tatajuba são marcados por modos de vida ancestrais no trabalho, no conhecimento acumulado, nas religiosidades e simbologias inspiradas e praticadas em relações e afetos com a natureza. De modo que, em geral as perdas socais e ambientais das comunidades tradicionais provocam muitos sofrimentos emocionais e psíquicos, especialmente na população mais velha, mas também em adultos e jovens.
Infelizmente, toda essa riqueza de Tatajuba vem, desde 2001, sendo prejudicada por conflitos de terra; destruição e práticas ilegais de uso e ocupação do meio ambiente; discórdias, brigas e inimizades entre as famílias e os diferentes grupos comunitários. A principal causa dessa situação é a pressão e “sedução” do empresariado dos setores imobiliários e turísticos sobre o território, motivando a adesão de alguns comunitários ao comércio ilegal de terras.
Essa situação acarreta prejuízos no trabalho e renda na comunidade, e incentiva o distanciamento da juventude das atividades tradicionais como pesca e agricultura, acompanhado de uma ausência de perspectiva de vida. Além disso, vive-se um contexto de perda e fragilidade das políticas de direitos para as comunidades tradicionais impactando no trabalho, nas economias e suprimentos domésticos.
Dentre os problemas que mais afetam a todos e todas estão o aumento do comércio ilegal de terra como forma de garantir renda e consumo; e os aumentos dos riscos de insegurança pública e de ameaças à integridade física das pessoas nos conflitos ambientais e por terra.
Como a Acomota colabora com a comunidade?
Durante todos esses anos, a Acomota atua não só no enfrentamento a esses conflitos através da judicialização e busca de apoio para melhorar a situação. A entidade também realiza:
Projetos produtivos de apoio às famílias do território para geração de renda, como: os quintais produtivos, criação de galinha caipira, material de pesca;
Projetos de apoio à organização comunitária: formação, oficinas de organização comunitária, educação ambiental, comunicação;
Projetos de valorização das artes e culturas locais como a tradicional regata de Tatajuba que mobiliza os pescadores artesanais da localidade e vizinhança numa bonita festa de afirmação do território, suas gentes e modos de ser e viver;
Projetos alternativos de Pesca (canoas e apetrechos). Atualmente, a associação conta com o projeto do “Centro de Pesca Artesanal D. Menta”, que possui uma câmara fria e uma fábrica de gelo, disponível para uso comunitário. O nome do Centro é em memória à uma das mulheres mais marcante e ativas na defesa do território: Dona Menta, uma matriarca sábia, que soube amar e ser amada por sua gente!
A associação recentemente foi aprovada no edital de financiamento do Fundo Sociombiental Casa. O projeto “Semeando independência”, contará com a especialização na produção de hortaliças, criação de banco de sementes e de animais vivos, construção de um biodigestor (é um equipamento que transforma dejetos orgânicos em biogás) e criação de pequenos animais.
Todo esse trabalho da Acomota alcança muitas famílias e pessoas, apesar de seus limites orçamentários e das realidades da maior parte das organizações comunitárias, marcadas por poucos recursos e muito trabalho. Mesmo assim, essa dedicação se justifica pelo sentimento de pertencimento e afeto ao território, e pelo desejo de promover a justiça na garantia da terra, dos direitos da comunidade de viver e proteger o meio ambiente.