O Território e suas gentes: Tatajuba

No caminho dunas brancas, areia fina, “vento forte”, maresia… De Camocim (CE) pra Tatajuba é essa a paisagem até o território, que só é possível chegar em carro de tração. A comunidade que ali habita entre as dunas e depois delas, está assentada em quatro vilas: Tatajuba, Vila São Francisco, Vila Nova, Vila da baixa da Tatajuba. Gentes que nos seus modos de vida conservam ancestralidades, defendem as paisagens naturais, lutam pela preservação de seus territórios e pertencimento do seu lugar.

Na memória e oralidade de seus moradores, a vila teve início em meados de 1902. Seus ancestrais, são pescadores que encontraram no território água doce, peixe em abundância, mar calmo e terra boa para plantar. O acesso sempre foi de grande esforço, era (é) preciso atravessar um “mar de dunas”. Em 1978 o vento forte foi o responsável pela mudança de alguns moradores, a areia foi se movimentando junto com os ventos e formando morros de terra dentro das casas, até serem soterradas. E foi aí que surgiram as quatro vilas.

A cultura alimentar do território (como a maioria dos povos do mar) está no consumo de peixes e mariscos, no cultivo de pequenos plantios, no uso de frutas da estação e na criação de pequenos animais. A comunidade, atualmente, conta com alguns equipamentos públicos de educação e saúde, porém enfrentam a precarização dessas políticas. A economia local gira em torno da pesca, do artesanato, do turismo comunitário e tradicional, da economia solidária, e do serviço público.

Um dos grandes problemas das vilas é a especulação imobiliária, a ocupação desordenada de alguns moradores que vendem suas terras para veranistas e depois ocupam outros lugares, gerando algumas disputas internas. Além da disputa judicial com uma grande empresa que se diz “dona” de 5.275 hectares do território, ameaçando retirar uma parte de antigos moradores. Tatajuba, hoje, é ambicionada por grandes empreendimentos turísticos, que ver em suas terras, potencial para a exploração do turismo de massa, como tem acontecido com a vizinha Jericoacoara.

Atualmente, cerca de 247 famílias (dados ACOMOTA) estão divididas entre as quatro vilas. Com organização popular e comunitária, e no fortalecimento das identidades, é assim que a população de Tatajuba vem lutando, para o bem viver, na preservação do meio ambiente e de sua história. Nesse processo organizativo destaca-se o relevante trabalho a Associação Comunitária dos moradores de Tatajuba, a ACOMOTA , que desde 2001 vem construindo todos os esforços para garantir que a comunidade não perca suas terras para especuladores e exploradores.

Fonte:  O turismo comunitário em comunidades tradicionais da zona costeira do Ceará: em foco a experiência da Rede Tucum – (Trabalho dissertativo de conclusão do Programa de pós-graduação de Geografia / 2011, da pesquisadora Cícera Inara Oliveira Souza Borges)

Ps. Por esses dias essa linda comunidade ocupará as nossas redes sociais. A ação de comunicação: “O Território e suas gentes”, tem a proposta de visibilizar os povos tradicionais costeiros para afirmar suas identidades, garantia de direitos, ouvindo aqueles que movem seu habitar, que se apropriam de suas histórias e cuidam de seus territórios.