[Manifesto] Apelo unitário à efetiva solidariedade com os povos afetados pela violência sistemática do modelo neoliberal na América Latina e Caribe
Em reação ao assassinato de defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil, Costa Rica e Colômbia, um conjunto de organizações latino americanas e caribenhas lançaram um manifesto de apelo à construção unitária de solidariedade entre povos afetados com a violência na implementação do modelo neoliberal de Estado.
O Instituto Terramar assina o manifesto, com demais movimentos sociais e organizações de defesa de direitos. Leia abaixo na íntegra.
Apelo unitário à efetiva solidariedade com os povos afetados pela violência sistemática do modelo neoliberal na América Latina e no Caribe
Os eventos repudiáveis e violentos da semana passada na América Latina e Caribe – o assassinato de Sergio Rojas, na Costa Rica, a tragédia da morte de 8 índios na Colômbia e o assassinato de Dilma Ferreira Silva no Brasil, entre outros -, nos enche de dor e sobretudo de profunda preocupação e indignação diante de um presente carregado de injustiça e impunidade contra as/os lutadores sociais e as/os defensores dos territórios e dos direitos dos povos.
Ao mesmo tempo, nos alertam, mais uma vez sobre a existência de uma política sistemática de extermínio realizada há anos no continente, e que agora tornou-se mais aguda, com a ascensão do fundamentalismo programático do neoliberalismo na maioria dos países que nos últimos anos, sob comando de governos progressistas, avançaram na garantia e efetivação dos direitos da população. Por conta desses avanços anteriores, pelas tentativas de dignificação da vida por meio da participação política, hoje, nestes países, as pessoas são punidas com assassinato, perseguição, estigmatização e todas as variáveis de criminalização de homens e mulheres que continuam a defender os bens comuns e direitos fundamentais conquistados através da mobilização social e participação na construção de políticas públicas, que hoje são arrebatados pela nova onda conservadora.
A intensificação dos assassinatos na região é, em nossa opinião, um outro resultado de uma arquitetura covarde de impunidade, agenciadas por forças imperialistas e corporações transnacionais que obtêm no processo de financeirização econômico e ambiental a possibilidade de lucro, e que estão dispostos a extermínio de seres humanos e do patrimônio ambiental para garantir seu ganho dentro do modelo de acumulação e desapropriação.
Como organizações mobilizadas na construção do poder popular, da democracia e da justiça nas suas múltiplas dimensões – social, ambiental, econômica, de gênero, etc – queremos, através desta comunicação, somar nossas vozes em solidariedade para tecer laços de unidade na diversidade. Estamos cientes da urgente necessidade de trabalhar conjuntamente para encontrar soluções concretas e eficazes para salvaguardar a vida das/dos nossas/os companheiras/os e que eles não sejam e nós não sejamos assassinados todos os dias sem que haja qualquer medida de proteção eficaz por parte de Estados, governos e organismos multilaterais que se vangloriam de seus trabalhos em defesa dos direitos.
Em quase toda a violência e perseguição, os mandantes e executores dos assassinatos de nossos companheiros e entes queridos permanecem sem ser identificados e impunes. Entendemos que esta arquitetura e estratégia de impunidade funciona como uma materialização da injustiça e hoje se constitui a condição máxima de possibilidade para a repetição diária da estratégia de morte.
Por estas razões, com a nossa preocupação latente e ao mesmo tempo com o nosso espírito de luta intacto e fortalecido na busca de justiça para os nossas/os companheiras/os, apelamos às organizações, processos e movimentos de toda a nossa América para somar suas vozes e ações à este chamado, a nos assumirmos como movimentos para denunciar e exercer a solidariedade efetiva na construção de uma frente internacionalista contra o fascismo que afeta os nossos povos, como uma possibilidade real de interromper o massacre social e político a que assistimos na região.
Com essa comunicação queremos que os agentes morte e da destruição saibam que não estamos sozinhos, e que não vamos parar até sabermos quem mandou matar nossas/os companheiras/os. Não vamos parar até que a legítima defesa dos direitos dos povos e dos territórios continuam a custar a vida.
Às famílias e comunidades das pessoas assassinadas nos últimos dias, e a todas/os aquelas/es para quem a justiça não foi feita, manifestamos conjuntamente nossa solidariedade. Continuaremos trabalhando diariamente para que a impunidade cesse e para honrar os esforços de todas/os aquelas/es que deram suas vidas para defender a nossa.
Jornada Continental pela Democracia e contra o neoliberalismo.
Amigos da Terra América Latina e Caribe -ATALC
Capítulo cubano de Movimentos desde a ALBA
Confederação Sindical de Trabalhadoras/es das Américas
Coordenação Latino-americana de Organizações do Campo – CLOC Vía Campesina
Jubileu Sul Américas
Marcha Mundial das Mulheres
ALBA Movimentos
Amigos da Terra Internacional – ATI
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB
Instituto Terramar – Ceará, Brasil
Terra de Direitos – Brasil
Movimento Dos Atingidos por Barragens -MAB – Brasil
Movimento Dos Pequenos Agricultores -MPA – Brasil
Movimento Dos Trabalhadores Sem Teto – MTST- Brasil
Foto: Jornada Continental pela Democracia e contra o neoliberalismo (Montevidéu-2017).