Violência contra a mulher é tema de festival em Caetanos de Cima

Se o machismo é violento em diferentes aspectos da vida, a resistência a ele também é diversa. Uma, talvez das mais efetivas, é através da arte. As mulheres de Caetanos de Cima materializaram isso no último sábado (3/12) ao apresentar o 1º Festival Artístico Mulheres Contra a Violência. A atividade foi a culminância de um processo de formação artística feminista realizado na comunidade através do Projeto Fale Sem Medo, uma iniciativa do coletivo Tambor Para Mulheres (TPM) em parceria com o Instituto Terramar e com apoio do Grupo de Mulheres de Caetanos de Cima e da Associação dos Pequenos Agricultores Pescadores Assentados do Imóvel Sabiaguaba (APAPAIS).

“O Projeto tinha como base o diálogo com mulheres jovens e o debate sobre violência através da música e da confecção de instrumentos”, explica Vylena Sousa, uma das jovens da comunidade que participou dos ciclos de formação ocorridos ao longo de 2016. No Festival, ela e as demais participantes, que se denominaram “As Caetanas”, apresentaram as músicas compostas ao longo do processo e ritmadas pelos tambores que elas próprias construíram. Além delas, os grupos Tambores de Safo e Cumades do RAP, ambos de Fortaleza e compostos apenas por mulheres, também estiveram presentes na programação da noite.

Para fortalecer ainda mais o espaço, uma roda de conversa entre mulheres artistas aconteceu na sexta-feira (2/12) que antecedeu o Festival. Desse momento, participaram as meninas de Caetanos de Cima e mulheres dos grupos Tambores de Safo e Damas Cortejam. “A gente chegou a um ponto muito comum entre nós, que foi da necessidade de nós mulheres estarmos a frente e nos apropriarmos da cultura musical. Todos os grupos tiveram como antecedentes a forma de participação secundarizada e como os homens negam isso: as meninas do Damas Cortejam com a realidade do carnaval de rua, que é majoritariamente feito por homens; nós das Tambores de Safo com a parada da diversidade sexual, que na hora o ponto mais forte era esse confronto entre mulheres e homens gays, no caso, a ideia da visibilidade e participação das mulheres na Parada; e as meninas de Caetanos com o grupo de coco, que teve uma época que era só homens que faziam e hoje tem uma apropriação maior das meninas”, reflete Lila M. Salú, integrante do grupo Tambores de Safo que, ao lado de Vylena, foi mestre de cerimônias no Festival.

Apesar de a proposta ter sido acolhida por diversos grupos e ter sido organizada pelas próprias mulheres da comunidade, todas as atividades que avançam no combate às opressões tendem a gerar algumas perplexidade, tendo em vista que não é comum a presença e a fala empoderada das mulheres, sobretudo jovens, no ambiente da música, ainda mais quanto pautam questões referentes às suas próprias condições. O mais comum e esperado é a participação de mulheres como dançarinas ou vocais que se fazem sob a direção de outros ou, por outro lado, a localização das mulheres na condição de objeto sexual, destituído de pensamento, interesses e necessidades próprias. Para a maioria das pessoas é comum e naturalizada a representação das mulheres em lugares que não mexem com as estruturas machistas, mas, antes, as reproduzem. Por isso, avalia Vylena, o espaço também despertou incômodos. Um exemplo disso foi a apresentação das Cumades do RAP, momento em que várias pessoas deixaram o local no qual ocorria o festival. Ainda assim, “foi super importante. É um assunto que tem que ser tocado dentro da comunidade. Com o tempo, vai melhorando”, ela finaliza.