Solidariedade à Tabubinha
Madrugada. Escuro. Sono. Barulho. Família acordada. Crianças jogadas para fora de casa. Pega o dono da casa, cadeirante idoso, veda os olhos dele. Leva para cima de uma duna. Espanca. Enquanto isso, a casa é demolida. Deixa o cara lá no morro mesmo. Atolado. Quem mandou morar na praia?
A história relatada acima é a narrativa da madrugada do último dia 6 de julho para a família do sr. Claudio, na comunidade de Tabubina/Beberibe/CE. Ao amanhecer, uma postagem contando esses fatos, divulgada em redes sociais, já contava com mais de 600 compartilhamentos. Em diversos lugares, manifestações de indignação e solidariedade.
Na última sexta-feira (15/7), entidades defensoras de direitos humanos realizaram uma visita ao local para dialogar com a comunidade. O caso do sr. Cláudio, embora seja o de maior projeção até o momento, em especial pela violência, não é o único nem o primeiro. Desde o início dos anos 1990, um empresário cearense tem, sistematicamente, intimidado a comunidade através da derrubada de cercas e casas, aterramento de lagoas e amedrontamento das pessoas, de forma a tentar forçar sua saída do território em que tradicionalmente vivem.
As ações do empresário se baseiam na afirmação, por parte do próprio, de que a o espaço em que a comunidade vive seria de sua propriedade; documentos que comprovem a posse, entretanto, não existem. Ainda assim, a intimidação não pára: só este mês de julho, três casas foram destruídas por sua ordem.
A área cobiçada, embora tenha poucas casas, sempre foi espaço ocupado e utilizado pela comunidade para suas atividades produtivas. Nessa região da zona costeira do município de Beberibe, a comunidade Tabubinha vive e reproduz seus modos de vida desde o início do século XX; das pessoas que lá estão hoje, pais e avós viveram na região a vida inteira.
A visita de solidariedade gerou provocações: a Defensoria Pública do Estado do Ceará esteve presente e afirmou que iria acompanhar o caso. A Defensoria Pública da União, por sua vez, garantiu que se envolveria em caso de comprovado o fato de a área ser de terras pertencentes à união. Enquanto isso, a comunidade segue resistindo.