Lançamento da Campanha Manguezais Conexões Vitais

A campanha Manguezais Conexões Vitais é uma inciativa de diversos sujeitos sociais e políticos no Ceará, por ocasião da comemoração do 26 de julho, aprovado pela UNESCO em 2015, como dia internacional da Conservação dos ecossistemas manguezais, e a semana estadual de Proteção aos Manguezais (Lei 16.996, de 2019), que compreende o mesmo dia.

Mais de 50% da população humana vive nas costas tropicais do planeta. Desde o assentamento de culturas as mais remotas, esses ambientes têm sido pressionados e alterados. Talvez nossa origem marinha nos atraia a viver entre “mar e manguezais” pela riqueza incalculável de seus bens naturais, a incrível biodiversidade que abriga e o bem-estar que a beleza de suas paisagens proporcionam. O manguezal é um desses ecossistemas marinhos costeiros, que abriga espécies com adaptações incríveis, para viver entre água salgada e água doce, onde a terra e o mar se abraçam, em uma grande variação de fatores físicos e químicos, que possibilitam a mais complexa teia alimentar.

Destacaremos nessa campanha múltiplas conexões, os manguezais e as cidades, a biodiversidade, o clima, as comunidades tradicionais, a saúde, a espiritualidade, os povos indígenas…E uma delas, a conexão entre a diversidade biológica e cultural, em suas múltiplas vertentes. O papel dos diversos povos do mar (marisqueiras, pescadores), indígenas, quilombolas, como guardiões(ãs) da biodiversidade e como defensores(as) da diversidade cultural, é fundamental para compreender as interconexões entre essas questões.

E para começarmos a nossa maré cheia de vidas e vozes que falam dessa conexão e encontro dos manguezais, ouvimos Roniele, morador e pescador da Boca da Barra em Sabiaguaba sobre o que significava essa conexão com o manguezal, no que ele nos brinda com suas impressões, ao tempo em que se ocupava com a pescaria:

Essa relação do manguezal com a gente está para além do espaço físico. A gente tem nossas camboas, nossos lugares de referência, nossos mais velhos, e a nossa forma de imortalizar esses nossos mais velhos que se encantaram, com o nosso respeito. Reverenciando nossos lugares, os lugares que nos ofertam os alimentos, respeitando esses espaços.  Buscando sempre manter tudo isso para nós, é uma relação de afeto, de alimentação e de reconexão com os nossos antepassados, com nossos ancestrais.

Eu falo desse contexto, eu falo especificamente da comunidade da boca da Barra em Sabiaguaba. É muito difícil falar, porque é falar de um lugar de memória, afeto, sobrevivência, de subsistência… Então tem todo um histórico que aponta para um caminho, onde esse lugar está para além de um espaço físico, e dentro disso há uma cosmovisão, onde se junta território, comunidade, bem viver e a conexão com nossos ancestrais. Então ela ocupa um ciclo onde é essa conexão que nos mantém vivos, são nossas memórias, nossos afetos, a pesca, a mariscagem, um encontro com famílias reativando nossas memórias ancestrais, relembrando a espiritualidade. Cada espaço do manguezal é importante, cada lugar tem um nome, representa um guerreiro, uma guerreira, então tudo isso está dentro de um contexto extremamente importante que marca o nosso desenvolvimento social. (Roniele Suira, morador e pescador da Boca da Barra, Sabiaguaba)

Texto de Soraya Tupinambá