Sobre a Violência na Prainha do Canto Verde

Intimidação através da violência; restrição do direito de ir e vir; destruição dos espaços e dos meios de trabalho, sobrevivência e convivência dos adversários são alguns dos crimes que estão sendo cometidos na Prainha do Canto Verde (Beberibe- CE) por um grupo local que se posiciona contrário a demarcação da Reserva Extrativista que, desde 2009, delimita o território da comunidade em terra e mar. Alinhado com interesses de especuladores imobiliários, este grupo, numa atuação que se assemelha a quadrilhas criminosas, promove conflitos internos e prejudica gravemente o bem viver da coletividade. Além disso, pessoas ligadas a esse grupo já acumulam denúncias de assédio sexual e estupro contra mulheres da comunidade e servidoras públicas que atuam no local.

Nem de longe essas atitudes podem ser comparadas às legítimas ações diretas, como ocupações e derrubadas de cerca, que são práticas da luta social em defesa de direitos. Antes, cria-se um contexto similar às práticas de estado paralelo que envolvem traficantes de drogas e armas e milicianos nas periferias dos grandes centros urbanos. Não há mais debate ou disputa, e sim uma guerra na qual os beneficiados não são sequer os comunitários que realizam as ações, mas outros poderosos que tem interesse na exploração das pessoas, de suas necessidades e de seus territórios para enriquecimento pessoal.

A divergência no debate quanto ao que pode ser melhor para o futuro do seu local não é por si só um problema. Ao contrário é uma expressão legítima de participação e reconhecimento da diversidade. Quando a discordância, entretanto, se torna a justificativa para o cometimento de crimes como a violência física e psicológica, a difamação e a calúnia, compromete-se a democracia. Nessas circunstâncias, a disputa extrapola o campo da política, transforma-se em caso de polícia e exige o esforço de promover justiça para os crimes cometidos. Ao constituir numa comunidade um estado de exceção pautado pelo medo e pela ameaça, qualquer posicionamento se torna injustificável.